O princípio da Não-violência
Por Gabriel Vital
Ahimsa – o primeiro dos princípio do Yoga, que consistem em Yamas: abstenções, ou restrições, que são formas de orientação sobre nossas condutas perante a vida, segundo a filosofia do Yoga.
É muito difícil falar em ahimsa sem esbarrar em outros Yamas (que veremos em outros capítulos). Porque o primeiro passo para a prática de ahimsa é conseguir detectar em quais momentos praticamos o seu oposto: himsa (violência em sânscrito), pois somente assim, conscientes, podemos evitar este comportamento que infelizmente é inerente ao ser humano. O termo ahimsa A (Não)/himsa (violência) em sua forma negativa, ao invés de simplesmente “pregar” a paz, nos permite parar e refletir em nosso dia a dia o quanto o comportamento humano é tendencioso a violência, e assim observar em quais situações exercemos atos violentos para com os outros e com nós mesmos (especialmente em atitudes mentais e crenças limitantes), pois essa violência que não se refere somente a uma atitude física de agressividade.
Por isso ahimsa trata sobre a pratica da NÃO-violência. Ou seja, de combater a violência que exercemos quando reagimos perante algo na vida.
Ahimsa não é somente não agredir o colega, assim como asanas não são somente pratica de posturas. A atitude não violenta está em nos policiarmos em pequenos atos do dia a dia. Desde a maneira como nos tratamos, tratamos os outros, as situações, inclusive durante a própria pratica de asanas, pois implica em respeitar limites, e portanto é necessário saber identifica-los. Em nosso corpo, em nossas emoções, naquilo que nossa alma nos diz, no espaço “do colega” ao lado, no que o colega ao lado também nos diz…
Toda situação nas nossas vidas quer nos dizer alguma coisa. E o princípio de ahimsa vem para nos lembrar de MUDARMOS DE ATITUDE quando nos conscientizamos de himsa (violência) em nossos atos.
Então, o que é himsa/ O que é violência? Quantas vezes no dia podemos notar atitudes violentas em nós mesmos? O que de fato é ser violento? O que é pacifismo?
A postura não violenta se refere muito mais a reação do que a ação. Mesmo porque como estamos cansados de saber, não podemos controlar os atos dos outros, mas temos o poder de escolher como nós agimos e reagimos. E neste momento entra a grande função dos Yamas nos ajudando a parar e pensar antes de cada ato!
Cometemos atos de violência contra nós mesmos constantemente! Sim, é triste! Mas o simples fato de NÃO FAZERMOS NADA PARA SAIRMOS DA ZONA DE CONFORTO JÁ É PRATICAR VIOLÊNCIA! Nos tornamos responsáveis quando identificamos atitudes nocivas. E não fazer nada a respeito é o mesmo que ESCOLHER PERMANECER NAQUILO QUE CAUSA DOR. Logo, se machucar tendo a opção de não ser o próprio causador da ferida é pura violência!
Isso se aplica para aqueles momentos em que temos pensamentos obviamente negativos e nos torturamos remoendo-os sem parar, por exemplo. Como se girar em torno do pensamento fosse fazê-lo para de existir. Ou fosse magicamente resolver um problema.
Ah, como é difícil! Então, se “aquilo que não se pode solucionar, solucionado está”, como não cair na passividade? Como ver coisas que não concordamos diante de nossos narizes e não reagir?
Pois é! Não é sobre não reagir. É sobre COMO REAGIR! Nós somos capazes de contornar os problemas com amorosidade. Basta sabermos respeitar os limites! O limite daquilo que te fere, o limite daquilo que fere o outro, o limite daquilo que não cai em desrespeito para consigo e para com qualquer ser vivo e manifestação de vida!
Nos tornarmos consciente de algo nos traz responsabilidade sobre aquilo que escolhemos fazer, e ahimsa deve ser um norte para delimitar o espaço entre o pacifismo e a passividade; a não expressão e a expressão amorosa; autocobrança e o perfeccionismo. Então, antes de qualquer coisa é muito importante ressaltar que sermos pacíficos não significa sermos passivos perante a vida. Não significa sermos inertes, ter “sangue de barata” ou ser “apáticos”! Também não significa estarmos isentos de momentos de raiva e outros sentimentos negativos, e sim de como lidamos com as situações adversas. Tomar consciência dos pensamentos negativos e agressivos que temos e não nos identificar com eles, não alimentá-los é a base. Da mesma forma que ser corajoso não é sinônimo de não sentir medo, mas sim de ultrapassarmos e superarmos o medo, não permitindo que ele nos paralise.
A medida que nos conectamos com a natureza percebemos o quanto o fluxo de tudo na vida é vivo, é cheio de energia e é feito da mesma matéria que nós somos. Nos tornamos mais conscientes do redor quando nos tornamos mais conscientes de nós mesmos, então aí, passamos a naturalmente respeitar mais a gente mesmo, aos colegas e a agir de maneira não violenta, pois quando ferimos o outro ferimos a também nos mesmos.
Somos partes integrantes da natureza e não donos dela, portanto ferir a natureza também é nos ferirmos… e assim por diante. O Yoga proporciona sempre a oportunidade de perceber os padrões macro e micro do universo agindo. Hora somos “macro”, tentando entender as centenas de situações “micro” enredadas em nós, hora “micro”, sendo apenas grãos de areia no Universo, cujo vento sopra pra lá e pra cá… Ironicamente somos um! “Mas só podemos controlar a nós mesmos”, jamais ao resto do Universo… e então? Nos tornamos passivos?
Não. Desde que saibamos agir com verdade, que tenhamos discernimento…. mas aí inevitavelmente, falaríamos de outros Yamas.
Por isso quando minha grande professora Rosana me introduziu no curso de formação em Yoga, ela disse ser “um caminho sem volta”. Pois yoga é conhecimento! E quanto mais aprendemos, mais nos tornamos responsáveis e mais devemos ter humildade em reconhecer que temos sempre muito o que aprender.
Sinto muito em lhe dizer, caro leitor, a perfeição não existe. Tudo nesta vida é pratica! E somos aquilo que praticamos. Não o que queremos praticar! Portanto, se não queremos cometer o erro de sermos violentos com nós mesmos permanecendo naquilo que dói, precisamos fazer um esforcinho para sairmos da inércia e vencer nossas dificuldades. Aliás, este é assunto para uma outra conversa…
“Senta que lá vem história”.
Mas antes convido a refletirmos sobre himsa em nossas vidas, algo que é muito particular para cada um, para assim sabermos por onde começar a agir com mais amorosidade e compaixão.
Ah, uma dica, quando estamos nervosos, não respiramos direito. Respire! Ahimsa.
Namastê!
Gabriela Vital