“Cada um sabe a dor e a delícia de ser o que é”
O princípio da não-cobiça:
Por Gabriel Vital
Asteya é um dos princípios do Yoga que significa em sânscrito: não roubar; não cobiçar.
Este princípio tem a ver com não invejar, não se apropriar daquilo que é do outro, e nos convida a pensar sobre a insatisfação tão inerente ao ser humano.
Infelizmente é muito comum no comportamento humano invejar aquilo que é do outro. Em um mundo onde os princípios são baseados no consumo, nas aparências, em que há sempre estímulos para isso, e em meio a tanta desigualdade, é quase “justificável”. Porém, asteya perpassa por regiões ainda mais sutis.
Quem nunca ouviu a expressão: “A grama do vizinho é sempre mais verde”? Mas a questão, é que somente o vizinho sabe o que ele de fato precisa fazer para que sua grama seja verde.
Será que estamos satisfeitos com nossa própria grama? E o “vizinho”?
O que poderíamos fazer a respeito?
O que realmente estamos dispostos a fazer?
Será que os processos pelos quais teríamos que passar para tornar nossa grama igual à do vizinho iriam realmente satisfazer nossos anseios? Ou também nos gerariam insatisfação pela energia dispendida?
Nosso jardim, mais ou menos verde, está de acordo com aquilo que conseguimos e estamos dispostos a fazer para ser como é?
Será que a inveja não é a falta do auto-reconhecimento, da autovalorização? De critérios… Ou talvez seja até mesmo fruto de ilusões… daquilo que imaginamos ser, mas não necessariamente de fato é!
Cabe uma reflexão: não seria mais importante lutar pra ser aquilo que tanto queremos ser, e não o que achamos que o outro é???
Será que nossa grama não reflete melhor a nossa personalidade? Nossas prioridades, nossos investimentos de tempo, cuidado, gastos, nosso estilo de vida… nossa capacidade de apreciação, nossa aceitação…
Asteya se relaciona intimamente com satya, o princípio da verdade. Pois quando vemos que a grama do vizinho é mais verde, não sabemos se de fato o vizinho é feliz com a própria grama. Esta é a importância de sabermos nossas prioridades, de buscarmos inspirações, mas sabermos expressar nossa verdade de acordo com nosso contexto, respeitando a diversidade, respeitando o próximo, a nós mesmo, e reconhecendo o espaço do outro. Pois a cobiça pode nunca ter fim, pode levar a corrupção, em pequenas e grandes escalas. Até mesmo porquê, muitas vezes, aquele que mais tem, é o mesmo que mais quer ter.
Fato importante a ser considerado é a questão das oportunidades! Dentro de um mesmo contexto social, com as mesmas oportunidades, será que é justificável cobiçar, roubar o que é do outro?? O que gera essa insatisfação?
O que instiga a competitividade ao ponto de querer se apropriar de ideias, iniciativas, coisas, relações, bens ou até características do outro?
Atender necessidades básicas para uma vida digna também envolve verdade e não-violência (satya, ahimsa), entre outros princípios, pois não se deve usar asteya como escudo para desigualdade social, alegando inveja, cobiça e roubo, como convém.
Não querer tomar o que não é nosso, envolve respeito e apreciação com desprendimento. E envolve, inevitavelmente questões pessoais e sociais! Nem tudo o que admiramos podemos nos apossar! Uma linda flor, morre se a tiramos do solo para carrega-la por aí porque a achamos bonita… não é melhor então respeitar e admirá-la em sua natureza, em sua existência como é? O mesmo vale para tudo! Não podemos nos apossar das coisas, seres, ideias, vidas…. mas podemos admirar, trocar, inspirar.
Asteya nos ensina sobre apreciar com moderação.
Namastê