Cada um dos yamas e niyamas nos prepara e nos leva ao próximo. Ao longo dos textos pudemos ver que nossa conduta perante ao Mundo, à medida que se torna mais consciente, se torna também mais elevada. E é por isso que dizem que quem realmente estuda yoga entra num caminho sem volta.
O yoga é muito mais profundo que as práticas de tapete, e até mesmo que as meditações. A verdadeira prática do yoga é tão sutil que acontece no dia-a-dia a cada movimento, a cada escolha, a cada ato consciente, e tornarmo-nos conscientes de algo nos revela, mais do que tudo, a responsabilidade que carregamos em cada gesto, em cada ato, em cada pensamento.
Assim, passamos a levar os ensinamentos para nosso dia-a-dia. Para nossas escolhas. Mudamos a percepção das coisas, e vemos (até de modo inconsciente) que nossos preceitos, nossos valores, nossos comportamentos vão sendo aprimorados e guiados pelos Yamas e Niyamas.
Primeiramente, os Yamas nos ensinam limites, posteriormente, os Niyamas nos levam a uma profunda e constante autobservância. Daí o caminho sem volta! Pois passamos a buscar coerência. Palavra de significado difícil esta, que nos traz a humildade de perceber que somos seres imperfeitos mas nos faz buscar darmos o nosso melhor.
Lembrando que o sábio Patanjali descreve em oito angas (partes) o yoga, sendo Yamas e Nyamas as duas primeiras e básicas, além de Asanas, Pranayamas, Pratiahara, Dharana, Dhiana e Samadhi, podemos observar que em todas elas aplicam-se Yamas e Niyamas. Sendo estes dois, íntimos e conectados.
O último Niyama, Ishwara Pranidhana, tem muita relação com o ultimo Yama -o Aparigraha, que já estudamos aqui e quer dizer não apego. Pois Ishwara Pranidhana fala sobre devoção, sobre entrega a algo muito maior. Maior que nosso ego, que nossas paixões e caprichos e nos permite enxergar como parte de um todo, muito maior e sutil. Portanto, essa entrega sincera à um bem maior nos leva ao Aparigraha, ao desapego das coisas serem como desejamos, como queremos ou esperamos, e passamos a nos sentir parte de um todo com devoção e entrega. Uma entrega a algo que nos guia interiormente.
Esta “guiança” pode ser o eu interior, pode ser a intuição, pode ser a divindade, ou o que for ou como for chamada, mas ela de fato acontece como algo que te faz ter fé no invisível, traz uma certeza e uma tranquilidade que muito tem a ver com aceitação das coisas, das etapas, dos processos, pois percebemos que tudo é transitório e que tudo tem um proposito maior. Ficamos mais leves, mais presentes, e quando percebemos estamos totalmente entregues a vida de peito aberto e confiantes.
Em que? Em Deus, em nós, no Universo, nas leis da Natureza…. Atentos e fortes, resilientes e entregues à um bem maior, entregues a intuição, entregues a algo que se manifesta através de nós para uma melhoria do todo.
Em um dos primeiros textos aqui publicados, comentei que yoga quer dizer união. E hoje, ao tratar do último Niyama, fica claro para mim, o quanto realmente tudo é tão enredado e faz parte de um todo. O quanto todos somos um. E este “um” é tudo o que há.
Parece complexo, mas é um caminho sem volta mesmo, porquê tendo estes princípios e valores dentro de nós, nos vemos em ciclos buscando auto-aprimoramento do ser, e mesmo que saiamos do caminho, somos guiados de volta à ele.
Minhas práticas e minha vida mudaram e melhoraram demais à medida que me entreguei aos processos, a Deus, ou a algo maior, com aceitação e humildade, observando e agradecendo. Talvez seja este o sentido da devoção. Fazer algo com entrega para um bem maior.
E você, tem medo da entrega?